Com um olhar cosmopolita, o Estúdio Mula Preta tem redefinido os contornos do design de luxo brasileiro. À frente do estúdio, os designers André Gurgel e Felipe Bezerra transformaram a ousadia autoral em assinatura — um traço reconhecível que desafia tendências e emociona pela forma, função e afeto. Ao longo dos últimos 12 anos, a dupla conquistou prêmios internacionais e expandiu sua presença no mercado nacional, sem jamais renunciar à originalidade. Celebrando cinco anos do espaço na Al. Gabriel Monteiro da Silva e o lançamento da nova coleção Celeiro, o Mula Preta reafirma sua vocação: criar peças que são, ao mesmo tempo, escultura e mobiliário; emoção e presença. Nesta entrevista exclusiva para a RSVP, os designers revelam os bastidores desse percurso, compartilham visões sobre o luxo contemporâneo e falam sobre a beleza que habita o simples — mas nunca o comum.
A flagship Mula Preta em São Paulo completa cinco anos em 2025. Que papel essa loja teve na consolidação da marca no universo da decoração de luxo?
A loja da Gabriel marcou um ponto de virada. Ao longo desses cinco anos, ela se transformou em um espaço de escuta e troca direta com o público final — algo essencial para o nosso amadurecimento como designers. Conseguimos observar de perto como as pessoas interagem com nossos produtos, o que nos permitiu sofisticar ainda mais nossas criações — tanto em acabamento quanto em proporção e sensorialidade. Com a flagship, consolidamos nossa presença no circuito do design de luxo brasileiro, mostrando que é possível aliar ousadia autoral a uma estética sofisticada e atemporal.
A nova coleção Celeiro reafirma o DNA do estúdio com peças que equilibram força e suavidade. Como vocês descreveriam essa fase atual do Mula Preta?
A Celeiro marca um momento de introspecção e precisão. Trabalhamos com formas mais serenas, volumes generosos e uma busca constante por ergonomia e beleza. Cada peça carrega uma simbologia — seja nos detalhes que remetem ao nosso cotidiano, seja nos materiais que evocam acolhimento e permanência. É uma coleção que traduz maturidade: olhamos para dentro, revisitamos nossas origens e transformamos tudo isso em uma linguagem de design que conversa com o luxo contemporâneo — elegante, confortável e cheio de alma.

Como vocês enxergam o papel do design autoral brasileiro dentro do mercado de alto padrão?
O design autoral brasileiro vive um momento de afirmação. Existe uma valorização crescente da originalidade, da história por trás de cada peça e da sensibilidade que o criador imprime em seu trabalho. No mercado de alto padrão, percebemos que o consumidor de luxo busca mais do que uma peça bonita — ele quer autenticidade, narrativa e exclusividade. E é exatamente aí que entra o Mula Preta. Cada móvel nosso carrega um ponto de vista, uma herança cultural e um refinamento técnico que conquistam esse público exigente.
O que faz uma peça de vocês se tornar icônica? O que ela precisa expressar para ocupar um lugar de destaque?
Ela precisa provocar. Precisa ser lembrada. Para nós, uma peça só é completa quando emociona — seja pelo impacto visual, pela funcionalidade surpreendente ou pela forma como se encaixa no cotidiano sem ser óbvia. Trabalhamos com a ideia de que o luxo também pode ser lúdico, afetivo, simbólico. E acreditamos que a beleza está na síntese: o essencial bem resolvido, o traço certeiro, o toque acolhedor. Quando conseguimos unir todos esses elementos, a peça deixa de ser apenas mobiliário e passa a ser parte da história de quem a escolhe.
A fusão entre design e arte parece cada vez mais presente nas criações de vocês. Isso é intencional?
Desde o início, nosso trabalho sempre flertou com o universo da arte. Com o tempo, esse diálogo se tornou mais nítido e assumido. Peças como a Apito — que é, ao mesmo tempo, objeto de arte, acessório decorativo e caixa de som — mostram isso. A intenção é justamente quebrar barreiras e fazer com que o design toque o campo do simbólico. Cada nova coleção reafirma essa intenção: a de criar peças que não apenas sirvam, mas que comuniquem.