Pela primeira vez no Brasil, o artista norte-americano Hal Trager (65) apresenta seus trabalhos em uma galeria de arte. A individual “Traço Contido”, que abriu em 22 de maio, explora com maestria a precisão geométrica no emprego da Op Art. Usando principalmente filme plástico fosco em suas criações, o artista explora ilusões espaciais e cria jogos de profundidade, desafiando a percepção.
Sua história no universo das artes começou quando, ainda criança, aos dois anos de idade, um acidente mudou o rumo de sua vida, deixando-o com apenas 35% da visão no olho esquerdo. Durante boa parte da infância, ele acreditava enxergar como qualquer outra criança. Foi apenas aos nove anos que notou que sua percepção visual era distinta. Ao lado do pai, em Manhattan, Nova York, perguntou a ele como era um arranha-céu. “Um prédio, um lado com janelas”, respondeu o pai. Mas Hal via muito mais do que isso: não enxergava uma superfície plana — via profundidade, ritmo e vida.
Prestes a lançar sua marca autoral, a Hal Trager Designs vai estrear na próxima edição da Fashion Week de Nova York, em setembro, e já está prevista para figurar nas passarelas de Milão e Paris. Em uma entrevista excluisa, o artista revelou detalhes sobre seus próximos projetos
Você foi amigo de grandes artistas como Andy Warhol, Keith Haring e Basquiat. De alguma forma, eles influenciaram o artista Hal Trager?
Esses artistas fizeram parte da minha vida pessoal, mas, na arte, apesar de serem fascinantes cada um em seu estilo, Keith Haring talvez seja quem mais, eu diria, teve um pouco de influência. Porém, mais do que todos esses, a artista Bridget Riley foi quem mais me influenciou! Bridget Riley foi uma grande influência a partir do momento em que conheci o trabalho dela e já desenhava em preto e branco na época. Foi uma descoberta ver como ela criava movimento, e a partir daí percebi que esse movimento era algo que ressoava comigo. Bridget Riley era a quintessência da Op Art. Meu trabalho sempre teve um design e eu quis unir o design ao movimento.
Em que momento você ‘se percebeu’ artista? E como isso aconteceu?
Quando eu tinha 9 anos, em Manhattan, estava sentado com meu pai em frente ao Chrysler Building e perguntei a ele o que estava vendo, porque o prédio, para mim, parecia ter muitas dimensões, e meu pai claramente não tinha essa percepção. Então, minha irmã me pediu para desenhar o que eu estava vendo e começou assim a minha percepção de que eu estava criando algo que ninguém mais conseguia recriar. A partir daí, alguns artistas passaram a me inspirar, como Vasarely e M.C. Escher. Vasarely foi uma influência logo cedo no meu trabalho, perto dos 13 anos, no sentido de profundidade e movimento. Foi através do trabalho dele que cheguei ao processo do movimento.
O que inspira suas criações?
Minha inspiração vem das formas do cotidiano que estão ao meu redor, especialmente aquilo que tem forma geométrica, a vida que vai passando pela minha frente. Para mim, o que é redondo passa a ser também formas mais rígidas, que se misturam e se transformam em quadrados e triângulos.
Essa é a primeira vez que expõe no Brasil. Por que o Brasil?
Eu sempre tive uma conexão com o Brasil, e então aconteceu o convite da Jade Matarazzo para a exposição em São Paulo. Para mim, foi uma grata e interessante surpresa o contraste com a diversidade de obras brasileiras, suas formas, temas e a paleta de cores em relação ao preto e branco. Meu trabalho explora o contraste entre o escuro e o claro para criar formas; aqui conheci o oposto, algo dinâmico em cor.
Quais os próximos passos de Hal Trager?
Estou já em preparação para a próxima exposição em Nova York, em setembro, mas o local ainda não está definido. Também estou criando uma coleção “limited edition” de peças superexclusivas, que será lançada junto com minha marca autoral “Hal Trager Designs”, durante a Fashion Week na mesma semana. Algumas dessas peças também estarão em Milão e Paris.