Com mais de duas décadas vivendo em Los Angeles, a atriz Gabriela Kulaif nunca imaginou que, um dia, sua própria história de vida ganharia forma nas telas de cinema. Protagonista e produtora do filme BitterSweet, que vem percorrendo os principais festivais internacionais, Gabriela interpreta Gigi, personagem inspirada nela mesma. A produção conta com nomes como Erik Marmo, William Baldwin e Steven Martini, marido da atriz, que também dirige e estrela o longa.

A história do casal — marcada pelo diagnóstico de autismo de Steven nos primeiros anos de casamento e, depois, do filho do casal — é o ponto de partida para o enredo. Em entrevista, Gabriela fala sobre esse processo de transformação em arte, sua trajetória até Hollywood, os desafios e as conquistas de viver da atuação fora do Brasil.

Como surgiu BitterSweet e o que ele representa na sua vida?

O roteiro nasceu de uma crise real. Meu marido tinha episódios intensos de ansiedade, os chamados meltdowns, comuns em pessoas autistas. Em um deles, antes do diagnóstico, a polícia foi chamada e ele acabou sendo impedido judicialmente de voltar para casa por dois meses. Nesse período, ele escreveu o roteiro do filme. Foi ali que tudo começou.

Qual foi sua reação ao ver sua própria história sendo contada na tela?

Foi um processo mágico. Lapidei esse filme como um diamante, com muito cuidado e entrega. É a nossa história, é íntima, mas também é universal — fala sobre amor, compreensão, família e sobre encontrar um caminho em meio ao caos. A arte nos ajudou no processo de cura como família.

Como foi interpretar a si mesma, ainda que por meio de uma personagem?

Desafiador. Gigi não sou exatamente eu, mas é a essência da mulher que precisou segurar tudo em momentos muito difíceis. Não foi só uma atuação, foi um mergulho emocional, e isso trouxe uma potência diferente para o filme.

O longa já vem começando a ganhar destaque internacional através dos festivais de cinema. Como você recebeu esse reconhecimento?

Com muito orgulho! Fomos selecionados para diversos festivais, o filme foi exibido três vezes no Marché du Film durante o Festival de Cannes, e eu fui premiada como Melhor Produtora em um festival de Los Angeles. Também recebi uma indicação como Melhor Atriz. É muito gratificante ver esse projeto ganhando o mundo e espero vê-lo nas telas do Brasil em breve!

Como começou sua jornada como atriz?

Sempre soube que queria ser atriz. Fiz teatro desde nova, me formei na escola Macunaíma, em São Paulo, e também me formei em Publicidade pela FIAM. Meu primeiro trabalho no palco foi aos 17 anos. Mas a vida me levou por outros caminhos também: fui publicitária, jornalista, professora de Reiki, de Kundalini Yoga, fotógrafa… Cada fase contribuiu para a artista que sou hoje. Aos 27 anos, vim sozinha com meu filho de sete para os EUA. Meu primeiro filho nasceu quando eu tinha 18. Então, precisei amadurecer rápido e trabalhar muito antes de retomar a carreira de atriz. Vim com coragem e sem garantia de nada, mas com muita vontade de construir uma nova vida.

Você sente que precisou abrir as próprias portas em Hollywood?

Totalmente. Não vim para cá com planos de ser atriz, mas tudo foi acontecendo com muita fluidez. Se eu tivesse nascido aqui, talvez as oportunidades viessem mais facilmente, mas o processo de conquistar cada espaço tem um sabor especial. É tudo mérito próprio, e isso tem muito valor.

Quais são os próximos passos na sua carreira?

Além de BitterSweet, já produzi o longa Fourth Grade, do Marcelo Galvão, que está na HBO Max e Prime Video. Atuei em Holistay, um filme de terror também disponível no Prime. Sigo fazendo budgets de roteiros para projetos ao redor do mundo. E tenho um desejo enorme de trabalhar mais no Brasil.