Em mais de três décadas de trajetória, Fernanda Marques consolidou-se como uma das principais referências da arquitetura e do design contemporâneo no Brasil. Seu trabalho, que transita com naturalidade entre a inovação e o respeito às raízes culturais brasileiras, vem conquistando reconhecimento internacional. Ao longo da carreira, ela manteve uma linguagem autoral e, ao mesmo tempo, aberta às transformações do tempo. Portanto, nesta entrevista exclusiva, a arquiteta e designer fala sobre o legado que deseja construir, a experiência de representar o Brasil em premiações globais, seu processo criativo no design de mobiliário e a missão de levar a identidade brasileira para o mundo. Afinal, para Fernanda, arquitetura e design são mais do que profissões: são formas de provocar sensações, emocionar e transformar a maneira como vivemos.

Fernanda, são mais de 35 anos dedicados à arquitetura e ao design. Que legado você gostaria de deixar com essa trajetória?

Mais do que construir uma carreira ou reunir um portfólio expressivo, o que desejo deixar é um legado de coerência. Sempre acreditei que a arquitetura e o design têm o poder de transformar a maneira como vivemos e sentimos o mundo ao nosso redor, e oferecer isso aos meus clientes, através da minha arquitetura — que é minha principal expressão artística —, é o tipo de legado que almejo. Ao longo dos anos, mantive uma linguagem autoral, mas nunca fechada, sempre aberta às transformações do tempo, ao diálogo com a arte, à tecnologia e aos novos modos de habitar. Se, ao olhar para minha trajetória, eu for lembrada por ter contribuído para tornar o morar mais sensível, mais conectado à natureza e à cultura brasileira, saberei que cumpri meu papel.

Você foi a única arquiteta brasileira no júri do iF Design Award. Como foi viver essa experiência e representar o Brasil nesse contexto tão prestigiado?

Foi uma honra enorme, mas também uma responsabilidade imensa. Participar do júri do iF Design Award, ao lado de profissionais de diversas partes do mundo, ampliou ainda mais minha percepção sobre o design como linguagem universal. Enxergar de forma ampla o quanto o mundo como um todo vem criando coisas excepcionais, designs inovadores, foi enriquecedor. Representar o Brasil nesse contexto reforçou meu compromisso com uma produção autêntica, consistente e enraizada em nossos valores. Eu não estava ali apenas por mim, mas como parte de um movimento do design que está consolidando o protagonismo brasileiro no cenário internacional.

Seu trabalho no design de mobiliário tem ganhado destaque internacional. Como é o seu processo criativo ao desenhar uma peça?

Cada peça nasce de uma escuta atenta: do espaço, da função, do gesto. Gosto de pensar o mobiliário como uma extensão da arquitetura, com a mesma atenção aos volumes, às proporções e aos materiais. Meu processo criativo é intuitivo, mas embasado; busco desenhar peças que sejam escultóricas e, ao mesmo tempo, acolhedoras e funcionais. A coleção Oceano, que criei para a Breton e levei à SP–Arte, traduz bem isso: formas que evocam movimento e fluidez, mas que convidam ao uso cotidiano. Cada curva tem um propósito, cada textura, uma emoção.

O que te move, depois de tantos projetos realizados, a continuar criando com tanta intensidade?

A vontade de me reinventar. A arquitetura, o design e a arte são campos infinitos — é justamente essa vastidão que me fascina. Cada novo projeto é um convite para sair da zona de conforto, para escutar com atenção e criar algo que tenha propósito. O que me move é esse desejo constante de provocar sensações, de emocionar. E, claro, ver uma ideia ganhar escala, ser vivida, tocada, sentida: é isso que faz tudo valer a pena.

Você já apresentou seu trabalho em feiras e exposições internacionais. Como é representar o design brasileiro fora do país?

É sempre uma experiência muito especial. Levar o design brasileiro para o mundo é também levar nossa identidade, nosso modo de olhar, de sentir. Um design sofisticado, contemporâneo, mas profundamente conectado à natureza, à mistura de influências, à emoção. Sinto que cada exposição fora do Brasil é uma oportunidade de mostrar que temos muito a dizer e que há uma curiosidade genuína sobre o que produzimos aqui. O retorno costuma ser muito positivo, e isso reforça minha vontade de continuar levando nossa linguagem cada vez mais longe.