À frente do Grupo Bell’Arte, Crystian Freiberger une memória, ousadia e identidade brasileira em sua trajetória como designer autodidata. Em um bate-papo exclusivo, ele compartilha o processo criativo por trás da Poltrona Solta — peça que traduz liberdade estética e emocional — e celebra sua estreia no Salone del Mobile, em Milão. Com uma visão que conecta passado e futuro, Crystian fala sobre crescer dentro da fábrica, reinventar significados e manter a essência mesmo ao expandir fronteiras.
Como surgiu a ideia da Poltrona Solta e o que ela representa para você como designer?
A ideia da Solta nasceu de um reencontro com o passado — literalmente. Ao circular pela fábrica da Bell’Arte, me deparei com uma antiga concha de fibra esquecida por lá. Aquilo me despertou. Onde muitos viam apenas uma peça ultrapassada, eu enxerguei estrutura, memória e potência criativa. Reinterpretei essa base com novas proporções, materiais e uma abordagem mais sensorial. A Solta fala sobre liberdade — de criação, de movimento e de expressão. Ela rompe com o tradicional e propõe um novo olhar sobre o conforto e a estética. Chamei de Solta justamente porque ela representa esse desprendimento do que já foi, em busca de novas formas de ser — e de sentir.
O que significa para você levar essa peça, tão pessoal e simbólica, para o Salone del Mobile em Milão?
É uma emoção imensa. O Salone é o epicentro do design mundial, e levar a Solta para esse palco é como dar voz ao design brasileiro com autenticidade. Mais do que uma peça, ela carrega o DNA da Bell’Arte — inovação, memória, sustentabilidade e, acima de tudo, humanidade. Estar lá também é uma forma de mostrar que o Brasil tem potência criativa, que sabe dialogar com o mundo sem abrir mão da sua identidade. É um orgulho representar isso por meio de um projeto tão verdadeiro e autoral.
Como você se imagina daqui a dez anos na sua trajetória como designer?
Me vejo ainda mais comprometido com a busca por significado. Não quero apenas criar peças bonitas — quero contar histórias, provocar sensações, conectar passado e futuro de forma autêntica. Daqui a dez anos, espero estar cercado de pessoas que compartilham essa visão e trabalhando em projetos que respeitem o tempo, a natureza e a emoção. Quero continuar aprendendo, e deixando que cada processo me transforme. Se eu puder olhar para trás e ver que mantive minha essência, mesmo expandindo fronteiras, aí sim vou sentir que estou no caminho certo.
Como foi para você trilhar esse caminho como autodidata e, ao mesmo tempo, crescer dentro da fábrica da Bell’Arte?
Crescer dentro da fábrica da Bell’Arte foi o meu primeiro contato real com o design. Desde pequeno, estive em meio a tecidos, madeiras, ferramentas e processos, observando de perto o trabalho das pessoas que transformavam ideias em produto. Ser autodidata veio dessa vivência prática — de testar, errar e tentar de novo. Não aprendi em sala de aula, mas sim no dia a dia da fábrica. Além disso, desde cedo também acompanhei meus pais em feiras e visitas a clientes, o que ampliou muito minha visão sobre o mercado, comportamento e expectativas das pessoas. Com o tempo, fui desenvolvendo meu olhar e entendendo que design vai além da estética: envolve processo, funcionalidade e muito envolvimento com o que se faz.