A artista Luciana Rique (Rio de Janeiro, 1978) vive e atua entre Londres e o Rio de Janeiro. Sua pesquisa artística tem a fotografia como linguagem, por meio da qual investiga percepções, em geral, não visíveis e insondáveis. O conjunto de suas obras visa criar um universo paralelo às realidades do entorno. Inspiradas por um viés meditativo, suas obras tangenciam o minimalismo e questões conceituais ligadas à herança modernista da fotografia.
Luciana formou-se na New York University e, depois, estudou fotografia na Spéos, em Paris, onde trabalhou como assistente do fotógrafo Jean Pierre Dutilleux. Mais recentemente, passou a integrar grupos de arte e fotografia no Brasil e em Londres e, atualmente, faz acompanhamento artístico com Agnaldo Farias e mentoria com o curador Eder Chiodetto.
A artista teve sua primeira exposição individual, Entreato, em setembro de 2023, no Rio de Janeiro, como parte do circuito da ArtRio. Também participou da Residência Artística Luis Maluf, em janeiro e fevereiro de 2024, onde apresentou seus trabalhos na exposição coletiva da Usina Luis Maluf e na exposição Acervo, na Galeria Luis Maluf, como parte da programação da SP-Arte, no mesmo ano.
Agora, pela primeira vez em uma exposição solo em São Paulo, com a mostra itinerante “Sólido Volátil”, exibida anteriormente no Rio de Janeiro, a artista fala com exclusividade ao RSVP sobre as percepções e surpresas que tem vivido na capital paulista. A mostra segue em exibição gratuita até 13 de abril, no Espaço Fonte, na Vila Madalena. Confira a entrevista:
A itinerância de “Sólido Volátil”, exibida no Rio de Janeiro no ano passado, recebeu novas obras e, agora ampliada, chegou a São Paulo. Como surgiu a ideia de trazer a mostra para a capital paulista?
A ideia da itinerância de uma exposição me agrada muito. O público de São Paulo é bem diferente do público do Rio. Tive essa ideia lá no início e me empenhei para que ela se realizasse. A arte deve ser acessível a todos e não restrita a um grupo, a uma cidade, a uma fase específica no tempo. Considero São Paulo a capital do Brasil e estou muito feliz em ter a exposição aqui, na época da SP-Arte, esse momento em que a cena de arte está fervendo na cidade e no qual tenho participação e trocas com tantos artistas e pessoas realmente engajadas no circuito.
Com ateliê no Leblon e em Londres, o que São Paulo revelou para você?
Acabei de voltar a morar no Brasil, após muitos anos vivendo em Londres. São Paulo é, definitivamente, onde tudo acontece no Brasil; é a cidade mais importante que temos para a arte e a cultura. As pessoas são interessadas, comparecem, produzem, discutem ideias e filosofia. É um câmbio muito rico e gostoso.
Estou encantada com São Paulo, principalmente com esse cantinho de Pinheiros/Vila Madalena. Vou andando e descobrindo espaços de arte independentes, ateliês de artistas, galerias, floriculturas, lugares que abraçam e englobam várias atividades em um só, que são agregadores — assim como o público. Quando menos percebemos, São Paulo envolve a gente de uma maneira cativante. Tenho ido a muitas exposições, performances, e descubro artistas que não conhecia. A exposição está sendo muito bem recebida.
A fotografia é a linguagem e a base do seu trabalho, mas você experimentou novos materiais para esta exposição. Quais foram as principais alterações ou implementações nas obras para a mostra em São Paulo?
A maior ruptura no trabalho foi a saída do plano bidimensional para o plano tridimensional. Comecei a criar formas a partir das minhas fotos, dobrando-as, rasgando-as — e, então, elas viraram esculturas.
Fiz uma mesa interativa com diversas esculturas, onde o público interage e cria suas próprias obras. É mágico! Não é apenas uma exposição de fotografia no senso puro da linguagem; é uma mostra de arte com fotografia, escultura, instalação, obras mixed media e interativas.
O trabalho ganhou camadas e percepções diferentes. É muito curioso: dependendo do ângulo em que você está diante da obra, pode ver um trabalho; eu vejo outro — e todos eles existem. Vivem na nossa memória, na nossa percepção. Há um jogo especular, um exercício sobre o olhar. Eyes are a window to the soul — o trabalho toca cada um de maneira diferente, é bem sensorial.
No seu trabalho, há um ‘jogo’ de luz e sombra, criado, talvez em grande parte, a partir dos elementos aplicados às imagens. Como você sabe que encontrou o ponto ideal neste ‘jogo’ para finalizar a obra?
O ponto ideal não existe. Não tem certo, não tem errado. Existe uma composição que, quando encontro o equilíbrio que estou buscando, acredito estar pronta para ir ao mundo.
Esse jogo de complementaridade dos opostos — o conceito de Yin Yang — são forças contrárias que se complementam para o equilíbrio do universo. É esse balanço que busco na minha vida e no meu trabalho. Ser inteiro não é ser só luz, é ser luz e sombra. Como disse Carl Jung: “O único propósito da existência humana é acender uma luz na escuridão do mero ser.”