Uma exposição feita de marcas, memórias e matéria
Um vaso quebrado que decidiu não esconder suas rachaduras. É assim que Bárbara Paz se apresenta em Auto-acusação, sua primeira exposição individual, que retorna ao Rio de Janeiro para uma nova temporada no Studio OM.art, no Jardim Botânico. A mostra, que já percorreu São Paulo, Lisboa e o próprio Rio com elogios da crítica e boa recepção do público, estará aberta entre os dias 9 de maio e 16 de junho, com entrada gratuita e performances aos sábados.
A exposição reúne fotografias, vídeos, objetos e instalações criadas a partir da própria pele — literal e metaforicamente. Cacos de vidro, fios de cabelo, maquiagem, pontos de sutura. Cada elemento foi extraído de sua história pessoal, marcada por um grave acidente de carro que sofreu aos 17 anos. O corpo, aqui, não é apenas biológico, mas suporte, memória, arquivo e linguagem.
“Um fio segurou minhas metades. Um nervo manteve minhas partes. Decidi não tirar essa marca. Quem sou eu? Fiquei com medo de mim sem ela”, escreve Bárbara, como um verso-escombro que ecoa pela mostra.
A pele como superfície de linguagem
Curada por Luísa Duarte, Auto-acusação explora o corpo como fronteira entre o dentro e o fora, o visível e o velado. Em obras como o vídeo De-marcação (2023), por exemplo, a pele da artista é submetida a linhas e medidas que lembram uma antropometria científica. Mas o que se mede ali é mais do que proporção: são histórias, dores, tempos.
“A pele não é apenas a aparência enganosa das coisas, mas aquilo que há de mais profundo”, afirma Luísa, citando Paul Valéry.

Entre o teatro, o cinema e a performance
O título da exposição remete à peça homônima do austríaco Peter Handke, Auto-Acusação, cujos fragmentos aparecem na instalação em forma de uma boca que fala — literalmente — em uma das obras. A escolha sinaliza um movimento que extrapola as artes visuais e se desdobra em teatro, cinema, performance e poesia, marcas centrais na trajetória híbrida de Bárbara.
Durante a temporada, a artista fará apresentações performáticas semanais, acompanhada por convidadas especiais. A programação será divulgada em breve, mas a promessa é de continuidade: o corpo que se expõe também se move, respira e reage diante do público.
Um espaço para a escuta e o atravessamento
Instalada no espaço expositivo do Studio OM.art, ateliê de Oskar Metsavaht que há anos abriga propostas que cruzam arte, ciência e filosofia, a mostra encontra um solo fértil para seu discurso. Desde sua inauguração em 2018, com Rhodislandia: Hélio Oiticica, o espaço se dedica a difundir arte contemporânea em suas múltiplas formas — e Auto-acusação se inscreve com firmeza nessa trajetória.
Mais do que uma exposição sobre cicatrizes, a obra de Bárbara Paz reivindica o direito de expor o que normalmente se esconde. Em tempos de filtro e aparência, sua proposta é radical: mostrar-se como vaso quebrado — e não por isso menos inteiro.
Serviço
Bárbara Paz | Auto-acusação
Studio OM.art – Rua Jardim Botânico, 997 – Jardim Botânico, RJ
De 9 de maio a 16 de junho
Terça a sexta: 11h às 18h | Sábado: 12h às 20h | Domingo: 10h às 18h
Entrada gratuita