Com estreia marcada para o dia 5 de junho, Ainda Não É Amanhã leva aos cinemas a estreia da pernambucana Milena Times no formato de longa-metragem. Reconhecida pelos curtas Represa (2016) e Au Revoir (2013), a diretora apresenta agora um drama íntimo e potente sobre os efeitos de uma gravidez indesejada na vida de uma jovem negra da periferia do Recife.
O filme obteve reconhecimento em importantes festivais. Estreou internacionalmente no Festival de Mar del Plata. Já no Festival do Rio, onde foi exibido na mostra Premiere Brasil Novos Rumos, rendeu à atriz Mayara Santos o prêmio de Melhor Atriz. Além disso, conquistou os troféus de Melhor Direção e Melhor Atuação no 20º Panorama Internacional Coisa de Cinema, realizado em Salvador.
Uma história de amadurecimento diante de desafios estruturais
A trama gira em torno de Janaína, vivida por Mayara Santos, uma jovem de 18 anos criada por sua mãe (Clau Barros) e avó (Cláudia Conceição). Como bolsista em uma faculdade de Direito, ela carrega a expectativa de se tornar a primeira da família a conquistar um diploma. No entanto, tudo muda quando descobre estar grávida. A partir daí, precisa rever planos, enfrentar dilemas e lidar com os impactos dessa nova realidade.
Ao abordar os efeitos da criminalização do aborto, o longa opta por um ponto de vista íntimo, sem abrir mão do comentário social. Através de gestos cotidianos e conversas familiares, o roteiro expõe como a desigualdade, o conservadorismo e a falta de informação moldam as escolhas — ou a ausência delas — das mulheres brasileiras.
Segundo Milena Times, o tema continua urgente. “A interrupção voluntária da gravidez acontece em qualquer lugar do mundo, por inúmeros motivos. Mas as proibições legais e os tabus apenas tornam a prática mais insegura, sobretudo para quem tem menos acesso à educação e aos serviços de saúde”, afirma.
Roteiro amadurecido ao longo dos anos
Milena começou a desenvolver o roteiro em 2016. Desde então, o projeto passou por laboratórios como o BrLab e o Cabíria Lab, além de ter sido finalista do Prêmio Cabíria de Roteiros. Com o tempo, o filme incorporou mudanças inspiradas pelo cenário político do país, onde avanços na discussão de direitos reprodutivos passaram a sofrer constantes ameaças. “Por isso, falar sobre isso hoje se tornou ainda mais necessário”, explica a diretora.
Elenco e equipe refletem diversidade e sensibilidade
O elenco conta com performances marcantes de Clau Barros, Cláudia Conceição e da artista visual Bárbara Vitória, que interpreta Kelly, a melhor amiga da protagonista. Bárbara venceu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Fest Aruanda. Mário Victor completa o núcleo principal como o namorado de Janaína. A preparação foi conduzida por Amanda Gabriel.
Além disso, o longa reúne uma equipe técnica sensível e premiada. A direção de arte é de Lia Letícia, enquanto a fotografia, assinada por Linga Acácio (Estranho Caminho), cria uma atmosfera intimista e densa. O desenho de som, desenvolvido por Martha Suzana e Nicolau Domingues, equilibra o realismo do cotidiano com a carga sensorial dos momentos de conflito.
Produção e distribuição
Ainda Não É Amanhã é uma coprodução entre Espreita Filmes, Ponte Produtoras e Ventana Filmes, com produção de Dora Amorim, Júlia Machado e Thaís Vidal. A distribuição está a cargo da Embaúba Filmes. O projeto recebeu apoio da Ancine, FSA, BRDE, Funcultura/Fundarpe, SIC e secretarias de cultura de Pernambuco e do Recife.