Quando o acaso é o guia
Hoje, ao folhear um guia de viagens, me peguei pensando: por que não abrir um mapa-múndi, fechar os olhos, apontar um lugar e deixar que o acaso escolha o próximo destino? Já fiz isso. Eu tinha 17 anos quando fui parar em uma ilha minúscula no Caribe chamada Jost Van Dyke. Um lugar onde marinheiros atracavam seus barcos ao entardecer. Não havia hotéis nem cadeiras de praia — apenas casinhas simples de moradores locais e, acredite, a praia mais linda que já vi.
Embora eu não esteja sugerindo que alguém repita essa loucura, sair do circuito óbvio é uma experiência transformadora. O mundo nos revela possibilidades que jamais imaginaríamos. Ele nos desconecta das certezas, desafia nossas crenças limitantes e nos oferece uma liberdade quase embriagante. A quantidade de aprendizados que isso traz vale por décadas vividas nos mesmos lugares de sempre.
A seguir, compartilho três destinos que me surpreenderam completamente. Eles oferecem graça, beleza e uma nova forma de ver o mundo.
Vietnã: luxo tropical e silêncio interior
Começamos com o InterContinental Danang Sun Peninsula Resort, no Vietnã — um refúgio escondido entre as montanhas verdes da península de Son Tra, com vista para o mar do Sul da China. Projetado pelo renomado arquiteto Bill Bensley, o resort mistura tradição vietnamita com um luxo contemporâneo distribuído em quatro níveis: “Heaven”, “Sky”, “Earth” e “Sea”. Um teleférico conecta os andares como se fosse um brinquedo sofisticado.
Cada suíte parece sintonizar com o seu silêncio interior. Além disso, o restaurante La Maison 1888 já foi premiado entre os melhores da Ásia. No entanto, o verdadeiro encanto está na sensação de estar fora do tempo. O lugar convida à contemplação, à escuta do mar e de si mesmo.
Panamá: isolamento com sofisticação ecológica
Se Danang representa o auge do luxo tropical, as Ilhas Secas, no Panamá, traduzem isolamento com consciência ambiental. Esse arquipélago privado, acessível apenas por hidroavião, permanece como um segredo bem guardado. Lá, a natureza reina soberana — e o respeito a ela é evidente.

O único hotel da ilha funciona com energia solar e coleta de água da chuva, sem abrir mão do conforto. Mais que um resort, o local parece um santuário onde se mergulha entre cardumes, caminha por trilhas vulcânicas e contempla noites estreladas que parecem invenções. As Ilhas Secas não servem para ver e ser visto — servem para desaparecer com elegância.
Escócia: lã, ruínas e silêncios
Agora, cruzamos o planeta e aterrissamos nas Ilhas Shetland, na Escócia — um contraste total. Aqui, o céu cinza e o vento lateral moldam uma paisagem melancólica, digna de um livro antigo. As Shetland não apostam em glamour. Em vez disso, conquistam com silêncios, ruínas e… lã.
Sim, lã. As famosas malhas artesanais são tricotadas por mãos experientes que conhecem o frio e a persistência. Cada suéter carrega histórias vikings, mapas de família e segredos de inverno. Em muitas estradinhas, você pode encontrar um tear em funcionamento dentro de uma casinha de pedra. Entre, sente-se: chá e conversa costumam vir juntos.
Além disso, as Shetland abrigam sítios arqueológicos impressionantes. Caminhar até os brochs — torres circulares de pedra construídas há mais de dois mil anos — é uma experiência que mistura mistério, natureza bruta e imaginação. A sensação é de estar nos bastidores do mundo, envolto em uma elegância rude e selvagem.
Entre o sol e o frio: o encontro consigo mesmo
Enquanto nas Ilhas Secas você mergulha entre peixes tropicais, nas Shetland você veste lã, bebe uísque defumado e contempla fiordes silenciosos como quem escuta uma canção antiga. Um destino aquece pelo sol; o outro, pelo fogo e pelas histórias. Ambos, à sua maneira, oferecem a chance de se perder — e de se encontrar.
Aliás, foi assistindo às três temporadas de Shetland, na Netflix, que acabei me inspirando a ir para lá.