Um problema que atinge milhões
Silenciosa, dolorosa e frequentemente ignorada. Assim é a endometriose, uma doença ginecológica crônica que afeta cerca de uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Isso representa aproximadamente 10,4 milhões de brasileiras que convivem com os efeitos físicos e emocionais da enfermidade, muitas vezes sem saber.
O que é endometriose?
A endometriose ocorre quando o tecido que normalmente reveste o útero, chamado endométrio, cresce fora da cavidade uterina, podendo atingir órgãos como intestino, ovários e bexiga. O resultado pode ser devastador: dores intensas, desconforto constante, ansiedade, depressão e, em muitos casos, infertilidade. “É a principal causa de infertilidade feminina”, afirma o ginecologista e obstetra Dr. Nélio Veiga Junior, Mestre e Doutor em Tocoginecologia pela UNICAMP.
O desafio do diagnóstico
Apesar da alta incidência, a endometriose ainda é amplamente subdiagnosticada. Parte do problema está no fato de seus sintomas mais comuns — como cólicas menstruais intensas — serem frequentemente normalizados ou confundidos com desconfortos típicos do ciclo menstrual. “A mulher cresce ouvindo que sentir dor é normal. Mas não é. Dor incapacitante durante a menstruação deve sempre ser investigada”, alerta o especialista.
Outro fator que dificulta a detecção precoce é o uso contínuo de anticoncepcionais, que pode mascarar os sinais da doença. “A pílula suprime a menstruação e, com isso, a mulher não percebe a dor. Mas a doença pode estar se desenvolvendo silenciosamente”, explica o médico.

A importância do acompanhamento ginecológico
O diagnóstico, por isso, costuma acontecer tardiamente, muitas vezes apenas na fase adulta ou quando a mulher tenta engravidar e não consegue. Por isso, o Dr. Nélio reforça a importância do acompanhamento ginecológico regular, especialmente entre adolescentes e mulheres que fazem uso de métodos contraceptivos hormonais.
Causas e possibilidades de tratamento
Embora ainda não se saiba a causa exata da endometriose, acredita-se que fatores genéticos e imunológicos estejam envolvidos. “A doença é de difícil prevenção, mas tem tratamento”, destaca o ginecologista. A abordagem varia conforme a gravidade e os objetivos da paciente.
Casos leves podem ser tratados com mudanças no estilo de vida, fisioterapia pélvica e medicamentos como analgésicos, anti-inflamatórios e anticoncepcionais. Já os quadros mais avançados podem exigir cirurgia minimamente invasiva, como a laparoscopia.
E se a mulher quiser engravidar?
Para mulheres que desejam engravidar, o tratamento deve ser individualizado e pode incluir o encaminhamento a especialistas em reprodução assistida. “Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de preservar a fertilidade e evitar complicações futuras”, finaliza o Dr. Nélio.
Fonte:
Dr. Nélio Veiga Junior é ginecologista e obstetra, Mestre e Doutor pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. CRM 162641 | RQE 87396 – Instagram: @neliojuniorgo