A atriz cabo-verdiana Cleo Diára brilhou na 77ª edição do Festival de Cannes ao receber o prêmio de Melhor Interpretação Feminina na mostra Un Certain Regard. O reconhecimento veio por sua impactante atuação no filme “O Riso e a Faca”, dirigido pelo cineasta português Pedro Pinho e coproduzido pela brasileira Tatiana Leite, da Bubbles Project.
Uma estreia mundial celebrada
Estreando mundialmente no festival francês, o longa foi aclamado pela crítica internacional. O portal Screen Daily descreveu a obra como “um trabalho notável ao criar uma história humana envolvente, repleta de nuances sociopolíticas e históricas”. No Brasil, o filme será distribuído pela Vitrine Filmes, mas ainda não tem data de estreia confirmada.
A trama: entre o deserto e a selva
“O Riso e a Faca” narra a trajetória de Sérgio, um engenheiro ambiental português que se muda para uma metrópole na África Ocidental para trabalhar em um projeto rodoviário entre o deserto e a selva. Durante sua estadia, ele se envolve intimamente com dois moradores locais: Diára (interpretada por Cleo Diára) e Gui, personagem vivido pelo brasileiro Jonathan Guilherme, ex-jogador de vôlei e hoje poeta, radicado em Barcelona.
O elenco também conta com o ator português Sérgio Coragem, conhecido por seus papéis em “Verão Danado” e “Fogo-Fátuo”.
Um filme de múltiplas nacionalidades
Fruto de uma coprodução entre Portugal, Brasil, Romênia e França, o filme reforça a potência do cinema internacional colaborativo. Filmado ao longo de quatro meses, entre 2022 e 2024, nas paisagens da Guiné-Bissau e do deserto da Mauritânia, o longa também homenageia a cultura brasileira ao adotar o título de uma canção icônica de Tom Zé — “O Riso e a Faca”.
O Brasil na produção e na equipe
Além de Jonathan Guilherme, outros brasileiros desempenham papéis cruciais no filme. A produção conta com nomes como Tatiana Leite (“Malu”, 2024), fundadora da Bubbles Project; Rodrigo Letier (“Gabriel e a Montanha”) como produtor associado; e Eduardo Nasser na direção de produção.
Na parte técnica, destacam-se profissionais como o diretor de fotografia Ivo Lopes Araújo, a montadora Karen Akerman e o editor de som Pablo Lamar. Ao todo, 31 brasileiros integraram a equipe, entre eles Stella Rainer, Wanessa Malta e Caio Costa.
Uma produção desafiadora
Tatiana Leite revela que aceitou o convite dos produtores portugueses sem hesitar:
“O argumento de ‘O Riso e a Faca’ me tocou profundamente. Sabia que seria uma jornada desafiadora, pela relevância política e delicadeza do tema.”
As filmagens em película, realizadas durante a pandemia, tornaram o processo ainda mais intenso. Contudo, segundo Tatiana, o resultado foi recompensador:
“Sinto que fizemos algo raro e precioso. Após a estreia em Cannes, mal posso esperar para mostrar o filme ao público brasileiro.”
Um título carregado de significado
O nome do filme reforça os laços com o Brasil. Inspirado na canção homônima de Tom Zé, lançada originalmente em 1970, o título remete à dualidade humana — a convivência entre extremos, o lirismo e a acidez. Essa tensão também permeia a narrativa construída por Pedro Pinho, onde, assim como na música, “nada é uma coisa só”.
Reflexão sobre neocolonialismo
Por fim, a trama aborda temas sensíveis e contemporâneos. À medida que Sérgio adentra nas dinâmicas neocoloniais da comunidade de expatriados, os laços afetivos que constrói tornam-se seu único refúgio diante da solidão e das tensões culturais.