A partir de 28 de maio de 2025, o Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB SP) recebe a exposição “Fullgás – Artes Visuais e Anos 1980 no Brasil”. Com curadoria de Raphael Fonseca, Amanda Tavares e Tálisson Melo, a mostra reúne cerca de 300 obras de mais de 200 artistas de todas as regiões do país. Além das obras, o público poderá conferir documentos, objetos, revistas, capas de discos e panfletos, que ajudam a traçar um panorama cultural da década de 1980.

O projeto, patrocinado pela BB Asset por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, reforça o compromisso da instituição com a promoção cultural. Para Mário Perrone, diretor comercial da BB Asset, “patrocinar a exposição é investir no futuro e na transformação da sociedade através da arte”.

Leda Catunda, Cérebro em stand, 1988, @Almeida & Dale Galeria de Arte
Leda Catunda, Cérebro em stand, 1988, @Almeida & Dale Galeria de Arte

Uma homenagem à geração dos anos 1980

Inspirada na música “Fullgás”, de Marina Lima, a mostra propõe um mergulho na geração que buscou novos caminhos para a arte, o país e a cidadania. “É uma geração que foi da intensidade à consciência da efemeridade da vida”, afirmam os curadores.

Além disso, a exposição ocupará todo o prédio histórico do CCBB SP e será organizada em cinco núcleos temáticos, nomeados a partir de músicas icônicas dos anos 1980: “Que País é Este”, “Beat Acelerado”, “Diversões Eletrônicas”, “Pássaros na Garganta” e “O Tempo Não Para”.

Na rotunda do prédio, haverá uma instalação inédita do artista Paulo Paes: um grande balão feito especialmente para a mostra. Por outro lado, o espaço educativo contará com uma banca de jornal, repleta de revistas, discos, livros e gibis da época, criando, assim, uma atmosfera nostálgica.

Beatriz Milhazes, Com quem está a chave do banheiro _ Foto: Manuel Águas & Pepe Schettino
Beatriz Milhazes, Com quem está a chave do banheiro _ Foto: Manuel Águas & Pepe Schettino

Contexto histórico e alcance geográfico

Embora tenha como foco os anos 1980, a exposição amplia o recorte temporal, abordando o período entre 1978 e 1993 — do fim do AI-5 ao pós-impeachment de Fernando Collor. É um arco de quinze anos, marcado por profundas mudanças políticas e culturais”, explicam os curadores.

Além disso, a mostra inclui artistas emblemáticos, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Leonilson, Luiz Zerbini e Leda Catunda. No entanto, também destaca nomes importantes de fora do eixo Rio-São Paulo, como Jorge dos Anjos (MG), Kassia Borges (GO), Sérgio Lucena (PB), Vitória Basaia (MT) e Raul Cruz (PR). Dessa forma, o projeto valoriza a diversidade regional, com apoio de consultores de diversos estados.

Cristina Salgado, Mulher TV, série Família Materialista, 1982 Wilton Montenegro
Cristina Salgado, Mulher TV, série Família Materialista, 1982 – Foto: Wilton Montenegro

Arte e cultura visual em diálogo

Mais do que uma mostra sobre artes visuais, “Fullgás” integra elementos da cultura visual que moldaram a década, como revistas, televisores, rádios, outdoors e materiais eletrônicos. Assim, promove um diálogo entre arte e cultura de massa, como ressaltam os curadores.

Após passar com sucesso pelo CCBB Rio de Janeiro e pelo CCBB Brasília, a exposição estará em São Paulo até 4 de agosto de 2025. Posteriormente, seguirá para Belo Horizonte, onde será exibida entre 27 de agosto e 17 de novembro de 2025.

Mônica Nador, Mamãe Natureza, 1990, Foto: @Filipe Berndt
Mônica Nador, Mamãe Natureza, 1990, Foto: @Filipe Berndt

Núcleos temáticos da exposição

“Que País é Este”

Este núcleo aborda o fim da ditadura e a redemocratização. Assim, estão presentes movimentos negros, de mulheres, indígenas, seringueiros e punks. Obras marcantes como “Sem título” (1982), de Aprígio e Frederico Fonseca, registros de Miguel Chikaoka e trabalhos de Arthur Bispo do Rosário e do coletivo Manga Rosa integram esta seção. O filme “Patriamada”, de Tizuka Yamasaki, também está incluído.

“Beat Acelerado”

Aqui, o foco está no prazer, na cor e na celebração, rejeitando, portanto, a austeridade dos anos 1970. Destacam-se obras como “Com quem está a chave do banheiro 10?” (1989), de Beatriz Milhazes, e “Cérebro em stand” (1988), de Leda Catunda. Além disso, aparecem “Hommage aux marriages” (1989), de Marcos Chaves, e a camisa “Overgoze” (1981), de Eduardo Kac.

“Diversões Eletrônicas”

Este núcleo reflete sobre o impacto da tecnologia e da cultura de massa. Entre as obras, estão “Painel de controle” (1987), de Luiz Hermano, e “Carro” (1980), de Jailton Moreira. Além disso, destacam-se trabalhos que dialogam com TV e fotografia, como as séries em xerox de Alex Vallauri e “Família materialista” (1982), de Cristina Salgado.

“Pássaros na Garganta”

Aqui, explora-se a relação com a natureza e a crítica ao capitalismo selvagem. São exemplos importantes: “Lacrima Christie” (1989), de Cristina Canale; “O pranto dos animais II” (1989), de Hélio Melo; e “Barranco” (1982), de Jacqmont. Destacam-se, ainda, a série “Césio 137” (1986), de Siron Franco, e esculturas como “Totens” (1989), de Vitória Basaia.

“O Tempo Não Para”

Este núcleo propõe uma reflexão sobre a passagem do tempo e a finitude. Entre as obras, estão “Mapa a cores” (1987), de Ana Amorim; “Sem título” (1990), de Fernanda Gomes; “Coluna de cinzas” (1987), de Nuno Ramos; e “As ruas da cidade” (1988), de Leonilson. Além disso, integram esta seção “Entre céus e ruínas” (1992), de Leila Danziger, e o vídeo “O profundo silêncio das coisas mortas” (1988), de Rafael França.

Teti Waldraff, Fusos, 1983 - Foto: @Fabio Del Re
Teti Waldraff, Fusos, 1983 – Foto: @Fabio Del Re

Conheça os curadores

Raphael Fonseca é curador de arte moderna e contemporânea latino-americana no Denver Art Museum. Além disso, em 2023, foi listado pela ArtReview como uma das 100 pessoas mais influentes das artes visuais. É doutor pela UERJ e curador-chefe da 14ª Bienal do Mercosul.

Amanda Tavares é pesquisadora e curadora, com pós-doutorado em Artes pela UERJ. Ela atua na 14ª Bienal do Mercosul e já colaborou com importantes instituições, como o MASP e o Sítio Burle Marx.

Tálisson Melo é curador, professor e pesquisador. Atualmente, faz pós-doutorado no Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Além disso, foi premiado pela Associação Brasileira de Críticos de Arte e atua na interface entre artes visuais e ciências humanas.

 

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