Com quase três décadas de experiência no mercado de varejo e moda de luxo, Ana Isabel de Carvalho Pinto é uma empreendedora visionária e inquieta. Cofundadora das plataformas Shop2gether e OQVestir, hoje atua como CMO do grupo Icomm, liderando as áreas de moda, marketing, vendas, estilo e curadoria. À frente do Shop2gether desde sua fundação, Ana Isabel foi pioneira ao lançar no ambiente digital algumas das principais grifes de luxo nacionais, como Adriana Degreas, Cris Barros e Água de Coco.

A seguir, Ana Isabel compartilha, em entrevista exclusiva, detalhes de sua trajetória profissional, os bastidores da criação das marcas e os próximos passos de seus projetos no universo da moda.

Nos conte mais sobre sua trajetória com a moda e a história de construção do Grupo Icomm

Minha trajetória de mais de 16 anos no setor é marcada por uma busca constante por inovação, curadoria refinada e uma visão estratégica que integra moda, tecnologia e comportamento do consumidor.

Comecei como empreendedora com o Shop2gether, um e-commerce voltado ao público premium, focado em uma curadoria cuidadosa de marcas nacionais e internacionais. Em 2017, liderei a fusão com o OQVestir, outro grande nome do setor, consolidando assim o Icomm Group. Essa união trouxe ganhos significativos, tanto operacionais quanto comerciais, e permitiu uma segmentação estratégica entre as marcas.

O Icomm Group, fundado oficialmente em 2017 com a fusão do Shop2gether e do OQVestir, nasceu com a missão de oferecer excelência em serviços e produtos exclusivos, aliados à informação de moda e dicas de estilo no ambiente digital. Nosso principal objetivo é manter o grupo na vanguarda, sendo pioneiro e líder em inovação nas novas formas de consumo no varejo de moda.

Como conciliar maternidade com a rotina intensa de empreendedora? A maternidade mudou sua forma de ver o trabalho?

Conciliar é um exercício diário de escolhas e presença. Vivo numa rotina dinâmica e desafiadora, mas a maternidade me ensinou que tempo de qualidade é mais valioso do que quantidade. Aprendi a ser mais objetiva, a delegar com mais confiança e a usar o tempo de forma mais estratégica — tanto no trabalho quanto em casa.

Sim, a maternidade mudou completamente minha forma de ver o trabalho. Ela trouxe ainda mais propósito ao que faço. Passei a valorizar a criação de um negócio que não só entrega excelência e inovação, mas que também inspira mulheres. Minhas filhas são o meu maior projeto — e ver nelas o reflexo de uma mulher que busca inovar, cuidar e transformar é o que me move todos os dias.

O Shop2gether se consolidou como uma ponte entre o consumidor brasileiro e algumas das grifes mais desejadas do mundo. O que você busca em uma marca para trazê-la ao Brasil? Quais critérios são indispensáveis para que uma marca internacional entre para o portfólio?

Nossos principais pilares são curadoria e vanguarda. Buscamos o que é tendência e inovação, com um olhar atual e sempre com a preocupação de encontrar marcas com propósito. Temos o compromisso de olhar para o futuro e trazer essa informação para o consumidor.

Nossos principais critérios são: o diferencial do produto, o quanto a marca tem sinergia com nossos pilares de negócio e se ela se encaixa no dia a dia da mulher brasileira.

Você tem uma vasta experiência no mercado de luxo no Brasil. Quais são as principais diferenças que percebe entre o comportamento do consumidor brasileiro de produtos de luxo e o consumidor de outros mercados globais?

O consumidor brasileiro de luxo tem características muito singulares; aqui, o luxo ainda é, em muitos casos, uma expressão de conquista e ascensão — ele carrega um valor simbólico muito forte.

Nos últimos anos, no entanto, temos percebido uma mudança importante: o consumidor brasileiro está cada vez mais exigente, informado e conectado com os valores das marcas. Existe uma nova geração — e até uma nova mentalidade — que valoriza o propósito, a curadoria e a experiência tanto quanto a etiqueta.

Isso se alinha a uma tendência global que vem redefinindo o luxo: menos ostentação, mais autenticidade, significado e impacto.

Acredito que o Brasil tem um potencial enorme nesse cenário, justamente por sua diversidade criativa e cultural. O consumidor brasileiro quer se ver representado — quer marcas que entendam sua identidade e seu contexto. Por isso, a curadoria precisa ir além da estética: ela precisa ser sensível, relevante e conectada com o tempo presente.

Como nasceu o Projeto Novos Designers e qual foi o principal propósito por trás da criação dele? Pode falar um pouco sobre a reformulação do projeto após 13 edições e o que podemos esperar?

O Projeto Novos Designers nasceu em 2018 como uma iniciativa do Shop2gether para dar visibilidade e espaço comercial a marcas autorais e designers emergentes da moda brasileira. A ideia surgiu da vontade de democratizar o acesso ao mercado para talentos criativos que, muitas vezes, têm dificuldade em competir com grandes nomes ou em alcançar uma vitrine digital de peso.

Após 13 edições, o projeto passou por uma reformulação estratégica para se alinhar ainda mais ao momento atual do mercado. A ideia agora é ampliar o alcance e o impacto da iniciativa, explorando novas formas de dar suporte a esses designers. Além das mentorias, com um formato similar ao de um concurso, o designer selecionado ao final do projeto receberá um aporte financeiro para investir em sua marca.

Já passaram pelo projeto nomes que hoje têm destaque no cenário da moda. Pode compartilhar algumas dessas histórias e o que mais te marcou em acompanhar essa evolução?

Paola Vilas, Neriage, Haight, Estúdio Pége e Apricus foram algumas marcas que já passaram pelo projeto, e é muito importante ver o quanto elas ganharam espaço no mercado e se tornaram referências de moda atualmente.

É isso que nos motiva a continuar o projeto: ver as potências que temos no design nacional e reconhecer a urgência e a necessidade de apoiar marcas emergentes.

Apoiar o design nacional vai muito além de uma ação de branding. Para você, qual é a verdadeira potência de investir em criatividade brasileira e o que isso representa para o futuro da moda no país?

Apoiar o design nacional é uma forma concreta de impulsionar a identidade cultural brasileira e fortalecer a autonomia criativa do país. Investir em novos talentos significa reconhecer o valor da originalidade, da diversidade e da capacidade de inovação que o Brasil tem a oferecer.

Para o futuro da moda no Brasil, esse investimento representa uma chance de posicionar o país não apenas como um mercado consumidor, mas como um polo criativo globalmente relevante. Quando damos visibilidade e suporte a esses criadores, estamos cultivando uma moda com mais propósito, enraizada em nossas histórias e, ao mesmo tempo, com potência de inovação para dialogar com o mundo.