Dez anos atrás, Fernanda Bezerra entendeu que, para construir o que queria, precisaria começar com o que tinha: escuta, repertório e um senso claro de propósito. Daí nasceu a Maré Produções — uma produtora que, com o tempo, virou quase uma extensão da sua própria caminhada como mulher, nordestina e agente cultural. Hoje, à frente de mais de cem projetos realizados, Fernanda celebra a primeira década de estrada com um olho no retrovisor e outro no horizonte.

Produções como Torto Arado (que estreia nova temporada no Rio de Janeiro em 17 de maio), Pequeno Manual Antirracista – A Peça, Namíbia, Não!, além de projetos musicais como o Festival Salvador Jazz, Festival Sangue Novo e o projeto Mulher com a Palavra, festival multilinguagem que discute o protagonismo feminino através da arte, ajudaram a firmar seu nome no circuito cultural nacional. Mas o que sustenta essa jornada não são os sucessos isolados… É a insistência em fazer da arte uma conversa viva com os territórios, os públicos e o tempo presente.

Com uma década de trajetória, quais foram os momentos mais desafiadores que moldaram a identidade da Maré Produções e como essas experiências redefiniram sua visão para o futuro?

A Maré se manteve relevante por estar sempre atenta aos movimentos do mercado, mas, principalmente, por manter uma escuta ativa com os territórios, artistas e públicos com os quais dialoga. Trabalhamos com projetos autorais, idealizados por nós ou em parceria com artistas e/ou outros produtores. É uma empresa que cria suas próprias demandas, atua com múltiplas linguagens artísticas e, nessa caminhada, já foram mais de 100 iniciativas realizadas.

Ao longo desses 10 anos, o mercado cultural e audiovisual passou por transformações significativas. Como a Maré Produções se manteve relevante e quais tendências futuras vocês já estão antecipando?

A Maré é uma empresa que sempre buscou antecipar algumas movimentações no comportamento cultural. Nesses 10 anos, vivemos muitos ciclos, mudanças, altos e baixos — e até uma pandemia, que fez a gente repensar muita coisa na nossa forma de fazer. Sempre tentamos lidar com os contextos do jeito mais sensível e coerente possível. Acho que a nossa maior força é essa capacidade de adaptar as ideias sem perder o propósito. Qual é o impacto de cada ação cultural? Essa é a primeira pergunta antes do desenvolvimento de um projeto. Nesse caminho, conseguimos construir relações duradouras com marcas parceiras e parceiros criativos, o que tem nos permitido pensar e planejar a médio e longo prazo, calendarizando nossas ações.

O nome ‘Maré’ remete ao movimento cíclico e constante das águas. Olhando para o futuro, que tipo de ‘onda’ a Maré Produções deseja criar para os próximos 10 anos?

Para o futuro, a ideia é expandir os projetos para outras capitais brasileiras, levando propostas que tenham impacto social, promovam diversidade e valorizem a cultura regional. Tudo o que a gente faz começa aqui em Salvador — é nossa base, nosso ponto de partida — e, a partir daqui, vamos replicando em outras cidades. A gente quer seguir trabalhando com legado cultural, com projetos que realmente contribuam para a construção de memórias positivas nas pessoas.